Duas Torres, Muitas Lições de Liderança – iPL semanal número 23
Desde os atentados de 11 de setembro, caminhamos para um mundo em que o poder global torna-se cada vez mais igualitário e os assuntos, antes locais, são de interesse mundial, de acordo com o Professor de Global Studies da Thunderbird School of Global Management, Roy Nelson. Estamos totalmente conectados e nossas vidas mudaram mais do que podemos perceber, depois de 2001. “Aos líderes, ficam as lições de aprender a lidar com os conflitos que o contato e a convivência com diferentes culturas, modelos econômicos e visões de mundo trazem, e aceitar que nem tudo pode ser previsto ou controlado”, afirmou Nelson.
Neste contexto de conectividade e convivência global, é indispensável desenvolver a habilidade de liderança baseada em Smart Power. O conceito, criado pelo professor de Harvard Joseph Nye, indica a habilidade de se combinar hard e soft power em uma estratégia de sucesso. Para Nye, uma das lições mais relevantes de 11/9 é que, ainda que o poder militar, ou hard power, seja essencial para enfrentar o terrorismo produzido por gente como Bin Laden, o soft power, com ideias e legitimidade, torna-se chave para vencer os corações e mentes dos muçulmanos que a Al-Qaeda gostaria de conquistar.
No entanto, com o erro tático do presidente Bush de declarar “guerra global ao terror”, Nye acredita que muitos muçulmanos entenderam a ação como um ataque ao Islã, o que serviu às intenções de Bin Laden de manchar as percepções sobre os Estados Unidos em países muçulmanos decisivos. Na medida em que os custos sem fim dessa guerra contribuíram para o déficit orçamentário que hoje paralisa os americanos, Bin Laden ainda conseguiu prejudicar o hard power dos Estados Unidos. Outro custo dos ataques pode ser o de oportunidade: enquanto a economia mundial foi se deslocando para a Ásia, na última década, a América ocupou-se em uma guerra no Oriente Médio. Assim, os Estados Unidos tornarem-se exportadores de medo, perdendo a chance de ter construído uma imagem inspiradora de otimismo e esperança.
No livro, “O Mundo é Plano”, Thomas Friedman analisa a mudança na percepção das pessoas em relação ao globo – antes redondo e, agora, plano – em que as divisões históricas, regionais e geográficas estão caindo dia após dia. Assim, não faz mais sentido uma companhia ou área de negócios manter mindset local. Mais e mais business são feitos por meio de colaboração entre organizações de várias partes do mundo. Assim, os pilares de criação de valor tornam-se tão complexos que nenhuma empresa seria capaz de dominá-los sozinha. Por isso da necessidade da globalização de qualquer organização.
“Em um mundo tão conectado, há cada vez mais acontecimentos imprevisíveis e incertos, e os líderes e organizações precisam se adaptar para sobreviver a essas mudanças constantes e repentinas”, afirmou Roy Nelson. Isso requer, principalmente, o gerenciamento do nível de ansiedade de uma forma eficiente.
É o especialista Roberto Rosen, autor do livro “Just Enough Anxiety”, quem estuda o nível de ansiedade que nos dá, como indivíduos e organizações, a carga emocional necessária para prosperar em um mundo incerto e alcançar resultados positivos. Rosen acredita que, ainda que nos protejamos da ansiedade, com mecanismos de auto-defesa, ansiedade demais ou de menos torna-se um obstáculo à alta performance. É preciso encontrar o equilíbrio.
Para ele, de um lado, há líderes pouco eficazes que aceitam a incerteza e acreditam que não existe nada a se fazer sobre ela. De outro lado, muitos líderes tornam-se controlfreak – e não conseguem conviver com a imprevisibilidade, tentando controlar tudo à sua volta. No entanto, os líderes que emergem para o topo são aqueles capazes de criar o nível adequado de ansiedade em suas organizações para maximizar e mobilizar energia humana, e conseguir as ideias mais criativas, os níveis mais altos de engajamento e as melhores performances das pessoas. Rosen cita Charles Darwin: “Não são as espécies mais fortes que sobrevivem, mas as mais inteligentes. Ou seja: as que melhor se adaptam a mudanças.”
Entre os líderes que sobreviveram e emergiram depois do 11 de setembro, o prefeito Rudolph Giuliani tornou-se figura emblemática. Durante a crise dos atentados, ele conseguiu manter-se visível junto à sociedade, ao mesmo tempo em que demonstrou postura calma e nível de ansiedade equilibrado, comunicando-se constantemente com seus liderados e revelando-se resiliente. Para Giuliani, os melhores líderes emergem nos tempos de crise “Sempre acreditei que as pessoas pudessem superar qualquer desafio jogado em seu caminho, se bem lideradas. Ao encarar este desastre, estando entre tanta ruína e desolação, eu senti uma mistura de descrença, mas também de confiança de que os americanos superariam o desafio”, ele afirmou.
Os atentados e as lições de liderança do prefeito Rudy Giuliani, em seu livro Leadership:
Seja Visível: Esteja ao lado de sua gente e veja com seus próprios olhos toda a crise.
Mantenha a Compostura: Mostre à sua equipe que você está calmo, o que ajudará seu time a pensar claramente e agir de maneira mais apropriada durante a crise.
Comunique: É preciso falar e entender o que as pessoas estão pensando e sentindo naquele momento. Definir as ações que podem ser tomadas de pronto para que as pessoas se ajudem e ajudem seus times.
Seja Resiliente: Dê a seu time um senso de esperança e leve a ela a crença de que tem habilidade para superar a crise.