Empreendedorismo sem idade: o exemplo de Abraham Kasinsky – iPL Semanal número 45
O empresário Abraham Kasinsky deixa um emblemático exemplo de liderança empreendedora. Homem de visão e iniciativa, reunia características que o impulsionaram rumo ao sucesso como empreendedor. Em linhas gerais, um líder empreendedor precisa ter capacidade de visão e direção, com firmeza e coragem para assumir os possíveis riscos de um novo empreendimento.
Depois de conduzir com sucesso a fabricante de autopeças Cofap, Kasinsky decidiu, aos 82 anos de idade, investir em outro ramo, criando a Kasinski Motos, vendida em 2009 para um grupo chinês. Ambos os empreendimentos foram rentáveis e bem-sucedidos, graças ao espírito empreendedor e aos atributos pessoais de Kasinsky, ícone de uma geração. Faleceu na semana passada, aos 94 anos.
A capacidade de adaptação foi decisiva para sua história de sucesso. Foram seis décadas à frente de negócios de envergadura, sobrevivendo aos períodos críticos – e consideravelmente diversos – da história e da economia brasileira. A Cofap nasceu e sobreviveu ao desafiador início da indústria de transformação do Brasil, atravessou regimes políticos turbulentos (era Vargas, ditadura militar), resistiu aos diversos planos econômicos dos 1980 e 1990, e enfrentou a internacionalização do setor de autopeças com solidez.
Embora o senso comum dê conta de que a maioria das pessoas comece a declinar em produtividade a partir da meia-idade, o empresário derrubou esta premissa. “Ele empreendeu com sucesso já com idade avançada, provando que não há idade para empreender e se reinventar”, disse Fernando Blanco, Vice-Presidente de Business Development do iPL e diretor do Centro de Estudos em Liderança Empreendedora – CELE/iPL. Afinal, durante a transformação de industrial de autopeças para o de motocicletas, Kasinsky teve de superar uma dolorosa e pública batalha jurídica com seus filhos e sobrinhos, para em seguida vender suas ações à alemã Mahle.
No artigo “The Existential Necessity of Midlife Change”, os autores Carlo Strenger and Arie Ruttenberg defendem a tese de que é nesse momento da vida, quando adquirem senioridade, que empreendedores e executivos descobrem sua força. Depois de terem passado por uma série de crises e derrubado diversos mitos da vida corporativa, o profissional tem maior habilidade para enxergar os problemas em perspectiva e lidar com eles com calma e autoconfiança. Ao contrário da juventude, que ainda está em fase de aprendizado e que começa a reconhecer as armadilhas do mundo empreendedor, líderes seniores precisam de maior liberdade de ação, para poder colocar em prática o conhecimento adquirido ao longo do tempo.
Os autores assinalam, ainda, que não há nenhuma mágica no processo de mudança de área de atuação. É um momento que requer grande dispêndio de energia física e mental. Implica também mudança de hábitos, de padrões de pensamento e uma revolução nas emoções. A transição é sempre um momento delicado. No entanto, para Kasinsky, sua coragem e ousadia permitiram que ele empreendesse essa mudança – embora continuasse atuando no ramo industrial, de seu profundo conhecimento, migrou do ramo de autopeças, para o de bens duráveis, vendendo para o consumidor final.
De acordo com Blanco, o empresário demonstrou arrojo ao mergulhar em um setor no qual a marca líder – a Honda – detinha cerca de 80% do mercado e a segunda colocada era uma empresa de caráter global, a Yamaha. “Era um empreendimento de grande risco, mas que pôde ser levado a cabo graças às características pessoais de Kasinsky. Ele tinha um estilo de liderança bem centralizador, a ponto de se envolver até na confecção dos crachás dos funcionários”, exemplifica o VP do iPL. Persistência e engajamento eram marcas do empresário – e de todo líder empreendedor bem sucedido.
A imagem do octogenário empreendedor atuando como garoto propaganda de sua empresa, pilotando uma Kasinki com uma modelo na garupa, dão mostras da sua inquebrantável autoconfiança. Mas Abraham Kasinsky não foi um empreendedor romântico, preocupado apenas com o produto e o mercado. Pelo contrário, detalhista e workaholic de primeira, segundo seus próprios funcionários, foi um empreendedor que nunca abriu mão de ter sua empresa administrada com esmero e com controles adequados. A combinação de visão, arrojo e aplicação na gestão dos negócios explica o porquê deste empreendedor ter sido bem sucedido durante estes quase 60 conturbados anos.