27 out
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Kadafi em sua Organização? – iPL semanal número 30

Líderes incapazes de se adaptar às mudanças do tempo e que se distanciam da realidade de seus liderados, derrubam a si mesmos quando há uma crise. No poder por 42 anos, Muamar Kadafi foi vítima de suas próprias fomes, deixou-se seduzir pelo poder, perdeu a capacidade de influenciar pessoas e se rendeu ao hard power – o poder pela coerção. “Podemos nos derrubar se esquecermos de prestar atenção em nós mesmos e começarmos a agir como se fôssemos indestrutíveis”, afirmou o diretor-presidente do Centro de Liderança Pública (CLP), Luiz Felipe D’Ávila. “No entanto, a queda de Kadafi não é o fim. Agora, vem o legado ruim que ele deixou para a sociedade, com a regressão da cidadania e das instituições.”

De acordo com D’Ávila, o uso excessivo do hard power ao longo dos anos pode ter provocado a “infantilização da sociedade líbia”, que ainda não se sente dona da liderança do País, mas, sim, liderada. “Trata-se de uma geração que cresceu subjugada por um líder considerado supremo”, disse. Ao mesmo tempo em que o “hard power”   derruba líderes, esse tipo de poder também pode destruir sociedades prósperas. O conceito, desenvolvido por Joseph Nye, professor de Harvard e autor do livro The Powers to Lead, é identificado como a habilidade de se usar carrots and sticks das forças econômicas e coercitivas para fazer com que o outro siga sua vontade. Soft Power, por outro lado, é a capacidade para conseguir o que se quer por meio da atração, comunicação e inteligência emocional.

“Kadafi chegou ao poder com soft power, integrando e coordenando líderes tribais líbios, e se exterminou com o abuso do hard power”, disse o CEO do iPL, Carlos Da Costa. “Liderança efetiva não trata de preferir um ou outro poder, mas de combinar os dois de maneira inteligente em proporções que variam de acordo com as situações mais diversas.” A essa combinação, Joseph Nye deu o nome de Smart Power.

Para o melhor uso do Smart Power, o líder deve analisar as formas de atuação de acordo com a situação, o sistema político organizacional vigente, as influências econômico-financeiras e características culturais. A construção de uma estratégia efetiva de Smart Power envolve a clara definição dos objetivos político-estratégicos, a análise das possibilidades de sucesso, a seleção das fontes de poder disponíveis em diferentes contextos e as preferências dos outros atores envolvidos. “Liderança pode existir com ou sem autoridade formal e uma análise da situação é essencial para que se defina a atitude inteligente no contexto. No entanto, há líderes que se deixam seduzir pelo poder vazio e perdem esse discernimento”, afirmou Da Costa.

Estudo realizado pela University of California concluiu que líderes ditadores perdem a habilidade de analisar a si mesmos e suas relações com outras pessoas, vendo o mundo de uma maneira mais automática e simplista – com o custo neurológico de se ignorar a realidade ao redor. O estudo mostra que o cortex paralímbico, onde nossas emoções e o senso de auto-controle são processados, pode parar de funcionar. Kadafi, por exemplo, identificou milhares de agentes que poderiam colocar em risco seu poder e simplesmente os eliminou. Á vista de qualquer situação verdadeira de reprovação, líderes ditadores começam a inibir seu sistema paralímbico, criam fantasias de seu próprio poder e se vêem como herois. Quando o senso de heroísmo é desafiado, eles se tornam paranoicos e parecem enlouquecer. Perdem o discernimento sobre os poderes que usam e, então, é o começo do fim.

Por isso, é preciso estar sempre atento ås emoções dos líderes nas organizações, e a imagem que eles têm de si. Se o poder tornar-se um fim nele mesmo, as atenções do líder para propósitos organizacionais podem ser destruídas. A melhor solução para o líder gerenciar essas ambições é estando consciente de suas próprias necessidades e fraquezas, e tomando as ações apropriadas para compensá-las, cercando-se de pessoas que possam contribuir de forma corajosa e alinhada. Toda organização, seja pública, privada ou não-governamental, pode ter Kadafis em vários níveis de liderança. Você já viu algum nas organizações em que passou?

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