Oriente Médio, Caras-Pintadas e Liderança – iPL semanal número 4
Nos últimos meses, multidões mobilizam-se diariamente no Oriente Médio sem que consigam vislumbrar uma transformação real nas instituições dos países daquela região. Os recentes massacres na Síria e na Líbia e as trocas de governantes na Tunísia e no Egito são resultados de mobilizações populares ainda órfãs de líderes verdadeiros – e que correm o risco de perder oportunidades preciosas de transformação.
Mobilização de pessoas sem transformação não é liderança. Transformações efetivas – e não mobilizações temporárias – requerem a capacidade dos líderes de construir o momento mais adequado para promover a mudança e assumir os riscos na condução desse processo.
“Bons líderes são capazes de transformar o ambiente e as pessoas, e conseguem perceber o momento mais adequado para promover isso”, afirmou o Program Director do iPL Fernando Flint. Ele citou a campanha presidencial de Barack Obama, que mobilizou milhões de pessoas em todo o mundo com o slogan “Yes, we can”. “Apesar disso, Obama não conseguiu transformar a sociedade como tinha prometido, o que prejudicou sua credibilidade e gerou frustração na população norte-americana”, disse Flint. No Brasil, um exemplo de mobilização sem transformação foi o movimento dos caras-pintadas, no início dos anos 1990, que conseguiu a deposição de um presidente da República, mas não alcançou uma mudança de cultura.
Para Flint, a grande maioria das pessoas resiste à mudança principalmente pela energia que o processo de transformação demanda de cada um. “A experiência de reaprendizagem é dolorosa, e o líder tem papel decisivo na condução do processo e na tomada dos riscos respectivos”, ele confirmou. “A grande diferença entre mobilizar e transformar é conseguir mudar a cultura, mudar a maneira de as pessoas pensarem e agirem.” Em um mundo cada vez mais dinâmico, onde as pessoas precisam tomar decisões o tempo todo, esse processo deve ser direcionado rapidamente.
“As transformações devem estar sempre voltadas para a abertura ao novo, com a inovação como tema central, para que outras transformações sejam possibilitadas mais facilmente, em um processo de inovação constante”, reforçou o educador. Segundo ele, há três pontos fundamentais para que esse círculo virtuoso de inovação constante se desencadeie: argumentos sólidos, compreensão das emoções das pessoas e da dinâmica organizacional, e o desenvolvimento de sistemas de incentivo que estejam alinhados com o novo caminho que se deseja trilhar.
As recomendações de Flint seguem na mesma direção dos especialistas norte-americanos James Kouzes e Barry Posner, autores do best-seller O Desafio da Liderança. O livro, baseado em estudos e entrevistas com líderes em diversos níveis de organizações públicas e privadas do mundo todo, guia o leitor por cinco práticas de liderança consideradas exemplares: Mostrar o Caminho, Inspirar uma Visão Conjunta, Desafiar o Processo, Habilitar os Outros a Agirem e Encorajar o Coração.
Essa última, tanto para Fernando Flint como para Kouzes e Posner, é essencial para se alcançar a verdadeira transformação. “Mas é preciso mais do que enunciações bonitas. Empresas que conseguem promover transformações são as que têm líderes comprometidos e corajosos”, concluiu o educador. Entre todas as coisas que sustentam o líder ao longo do tempo, o amor é a mais duradoura. É difícil imaginar um líder dedicando longas horas e correndo riscos em busca de resultados extraordinários sem que ela tenha todo o seu sentimento nisso.