Quando um Líder Cai, ou Tudo o que é Sólido Desmancha no Ar – iPL semanal número 21
A queda do ditador líbio Muammar al–Gaddafi, no poder havia 42 anos, mostra aos líderes que mesmo os aparentemente mais poderosos podem cair rapidamente. “Muitas vezes, podemos nos derrubar se esquecermos de prestar atenção em nós mesmos e começarmos a agir como se fôssemos indestrutíveis”, afirmou o diretor-presidente do Centro de Liderança Pública (CLP), Luiz Felipe D’Ávila. “Líderes que se distanciam da realidade de seus liderados e que são incapazes de se adaptar às mudanças do tempo, achando que podem se manter em sua posição para sempre, são os primeiros a cair, quando chega uma crise.”
Estudos recentes publicados por Harvard Business Review apontam que líderes fracos, em geral, não estão conscientes de seus comportamentos, como a falha no desenvolvimento dos liderados e a resistência a novas ideias. Além disso, os líderes avaliados de maneira mais negativa pelos pesquisadores tinham uma avaliação de si mesmos muito positiva. Para os especialistas Jack Zenger e Joseph Folkman, autores do estudo “Ten Fatal Flaws that Derail Leaders”, os líderes devem se esforçar para extrair de si feedbacks verdadeiros de sua performance – o que traz novas oportunidades de liderança.
“Poucas práticas são mais críticas do que conseguir analisar todo o contexto ‘de cima’”, afirmou Luiz Felipe D’Ávila. Imagine que você está em um salão de festa: a visão que se tem enquanto se está no meio do baile é totalmente diferente de quando se olha o salão de dança lá de cima, do camarote. Alcançar a perspectiva do camarote significa tirar-se do salão de dança, em sua mente, nem que seja por um momento. “Um líder que esteja em descompasso com as crenças, valores e anseios da organização e de seus liderados não consegue se manter. Muitas vezes, líderes que tiveram muito sucesso no passado, podem sofrer grandes derrotas em períodos futuros.”
Pesquisa desenvolvida pelo Center for Creative Leadership analisou as diferenças específicas em traços e habilidades pessoais entre líderes consolidados e outros que saíram dos trilhos. Líderes que “descarrilaram” (derailed) tiveram uma série de sucessos prévios, todos em situações similares, enquanto líderes sólidos viveram êxitos e fracassos em experiências de diferentes tipos. Em momentos de crises, os bons líderes mostravam seu equilíbrio emocional, admitiam erros, aceitavam a responsabilidade e agiam para solucionar o problema. Líderes problemáticos tentavam esconder o problema, enquanto o solucionavam, e culpavam outras pessoas. (Veja Box)
“Nós vivemos em um período em que tomar iniciativas de liderança é mais importante e mais complicado do que nunca”, afirmou o diretor-presidente do CLP, citando o livro Leadership on the Line, escrito pelo especialista Ronald Heifetz. Para Heifetz, todos nós temos fomes (hungers), que são expressão de nossas necessidades humanas normais. . Todo ser humano precisa de algum grau de poder e controle, afirmação e importância, assim como intimidade e prazer. No entanto, essas fomes interompem nossa capacidade de agir de maneira inteligente, deixando-nos vulneráveis. É preciso estar atento ao levar emoções de outros na organização e estar ciente de como os sentimentos de outras pessoas afetam o líder.
Isso porque o líder participa de emoções coletivas, que podem gerar diversas tentações, como convites a usar o poder sobre outras pessoas, apelos para lançar mão de seu próprio senso de importância, oportunidades para intimidades emocionais e até satisfação sexual. No entanto, conectar-se com essas emoções é diferente de dividi-las com os outros, e render-se a elas destrói a capacidade de liderar. O poder, de acordo com Heifetz, pode se tornar um fim nele mesmo, distraindo a atenção do líder para propósitos organizacionais. O especialista defende que a melhor maneira de o líder gerenciar essas fomes é estar consciente de suas próprias necessidades e vulnerabilidades, não apenas silenciando-as, mas tomando as ações apropriadas para compensá-las.
Oportunidades de liderança, afirma Heifetz, estão disponíveis para cada um de nós. Todos os dias, podemos levantar importantes questões, falar de valores superiores e trazer à tona conflitos ainda não solucionados – fazendo a diferença na vida das pessoas ao nossos redor. Como líderes, temos a oportunidade de nos colocarmos em um caminho de prosperidade e continuar em nossas posição, não somente no trabalho, mas também em família e na comunidade, no coração e na essência. É disso que o mundo precisa.
O que os pesquisadores do Center for Creative Leadership aprenderam sobre as diferenças entre os líderes sólidos e os que descarrilaram?
Diversidade de Experiência: Líderes que descarrilaram tiveram uma série de sucessos, mas em situações similares. Ao contrário, líderes mais sólidos mostraram ampla perspectiva em diferentes tipos de desafios.
Estabilidade Emocional e Compostura: Líderes que descarrilaram não mantinham equilíbrio sob pressão, com comportamento errático que influenciava seu relacionamento com outras pessoas. Ao mesmo tempo, líderes de sucesso mostravam-se calmos e confiantes.
Lidando com Erros: Líderes despreparados eram mais defensivos em relação aos erros, tentando encobri-los ou culpando outras pessoas. Bons líderes admitiam o erro e os consertavam.
Técnicas Interpessoais: A causa mais frequente de fracassos é a insensibilidade aos outros. Sob estresse, alguns líderes tornam-se duros demais e intimidadores. Por outro lado, líderes de sucesso compreendiam cada pessoa e desenvolviam um vasto network de relações cooperativas. Nos momentos de divergências, líderes de sucesso exerceram a diplomacia, enquanto líderes que fracassaram mostraram-se ofensivos.
Integridade: Em nome da ambição, líderes fracassados podiam quebrar uma promessa e usar seus liderados como “escada” para subir. Bons líderes eram íntegros, demandando excelência de seus liderados e colaborando no seu desenvolvimento.